Misture paixão, morte, delírio, erotismo, sonho e uma mão cheia de medo e mistério. Leve ao fogo e em seguida sirva porções generosas. Essa é a receita de Pente de Vênus, de Heloísa Seixas.
Dosando os ingredientes com cuidado e elegância, Pente de Vênus envolve-nos em seu clima perturbador, convidando-nos à saboreá-lo com sofreguidão. A narrativa, repleta de detalhes, induz a projeção de cenas descritas em Paris, Istambul, Moscou, arrastando-nos para dentro de histórias arrepiantes.
Dosando os ingredientes com cuidado e elegância, Pente de Vênus envolve-nos em seu clima perturbador, convidando-nos à saboreá-lo com sofreguidão. A narrativa, repleta de detalhes, induz a projeção de cenas descritas em Paris, Istambul, Moscou, arrastando-nos para dentro de histórias arrepiantes.
Em alguns trechos de seus vinte e um contos o texto pode confundir o paladar, fazendo-nos acreditar que temos nas mãos um exemplar de Nelson Rodrigues ou Edgar Allan Poe, o que, apesar de provocar engasgos, não chega a ser um dissabor para os que apreciam histórias do amor assombrado.
O gosto de Ostras Gratinadas Temperadas com Pimenta Branca é sua exata proporção, harmonizando-se perfeitamente com sua atmosfera ambígua, provocante e, porque não, afrodisíaca.
“Olha-o como sempre sonhara fazê-lo, desde que o vira pela primeira vez no livro trazido por seu pai. Olha-o como talvez ele jamais tenha sido olhado, nem mesmo por seu criador. O rosto feminino, os lábios finos, o nariz clássico, cabelos em cachos, o ângulo reto do maxilar, cada milímetro daquele semblante adorado já é seu conhecido de muitos anos. Mas nunca antes ela estivera tão perto daquele que era e sempre fora seu único amor, embora feito de pedra. David. David de Michelangelo.” – Viagem a Armac, pág.178
“Cercada pela moldura apodrecida da porta, estava um rosto de mulher. Olhava-a, os olhos muito abertos, mas era como se não a visse. Sob o véu de filó há muito amarelecido, os cabelos desgrenhados estavam cobertos de pó. De pó era também a superfície muito branca de seu rosto, onde uma lágrima abria um veio escuro e brilhante. Um odor de flores mortas encheu o ar e só então ela percebeu que a cabeça sem corpo estava encoberta pelo que restava de um véu e uma grinalda. Compreendeu, então, que estava diante de seu próprio fantasma.” – Nos Territórios dos Sonhos, pág.205
“Dizem que nos desertos é assim. O tempo se cobre de disfarces, as areias iguais que se estendem pela superfície morta carregam as horas sem que possamos perceber. E de repente a noite chega, como chegou agora pra mim, nesta praia assombrada. Engraçado. Estou sorrindo. (...) não sinto medo.” – Farol de Santa Marta, pág. 350
Para aumentar a inquietude à mesa, experimente-o ao som de Beyond Time, Lounge.